segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

um dia na Gare de Lyon

Depois de uma noite mal dormida num hotel de terceira, acordei de repente, louca para sair daquele lugar. Não passava muito das 6 da manhã quando cheguei ao guichê de câmbio, na estação de trem Gare de Lyon, que ficava na frente do hotel. Troquei os cheques por marcos, ignorei o restaurante Le Train Bleu, famoso por servir refeições desde 1901, e comi num outro qualquer - uma baguete com presunto e café com leite e um iogurte - e voltei ao hotel.
Mais de 90 milhões de pessoas passam pela Gare de Lyon, por ano.
Em vez de deitar e dormir mais um pouco, paguei a diária e peguei as malas. Queria embarcar no primeiro trem para Roma. Eu estava aflita, angustiada, e queria sair dali o mais rápido possível. Corri para a estação e quase tive um piripaque quando vi que o primeiro trem para Roma seria às 8:43 – da noite!!!!  Queria morrer de tanto sono que eu tinha! Mas, a meleca já tinha sido feita, a diária já estava paga, e eu já estava na estação. Sem ânimo para sair pela cidade, uma vez que voltaria a Paris com as minhas amigas, sentar num canto seria a melhor opção. Para passar o tempo, comprei um jornal e tentei decifrar o que ele dizia, comi e observei as pessoas. Lembrei que estava na capital da moda e comecei a prestar a atenção nas roupas que usavam, na postura, como se comportavam, o corte do cabelo. Mas, não foi o suficiente. Achei uma sala para as pessoas que estavam esperando a hora do trem, me acomodei e logo me transformei numa daquelas figuras que cochilam nas rodoviárias, que tentam equilibrar a cabeça em cima do pescoço e manter os olhos abertos – horrível!  Quase babando, pensei na minha casa, na minha mãe e quase choro outra vez.

Mesmo nessa situação calamitosa, um árabe bonitão sentou ao meu lado. Mas, ele só falava francês. E eu, um inglês vagabundo. Mesmo assim, ele insistiu em conversar. Assim, ele falava não sei o que bem-de-va-gar e eu respondia em português, já que ele não ia entender nada de qualquer jeito. Lá pelas tantas, depois de uma conversa muito doida, em que ninguém entendia ninguém, ele, já cansado de soletrar as palavras em francês, foi direto ao ponto: amour, amour, hôtel, hôtel... e, enquanto falava, foi me pegando pela cintura e enfiado o rosto no meu pescoço. Como assim, meu senhor..? Quem é você? E antes de pensar ih, tô bombando!, eu me desvencilhei do bofe,  pulei da cadeira e falei em alto e bom som: vou chamar a polícia! I ‘ll call the police! Polizia! Police! Polizei! Todos olharam, ele se assustou e saiu de fininho. Enfim, pude cochilar em paz!

2 comentários:

  1. Mesmo sabendo que voltaria a Paris, prefiro acreditar que um passeiozinho teria sido a melhor opção...

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