domingo, 24 de março de 2013

UM CONTO DE FADAS CHAMADO BRUGES

Posso dizer que já fui uma frequentadora assídua de Bruges, a linda cidade belga que, por ser cortada por vários canais, é conhecida como a "Veneza do Norte". 




Na época que passei em Ramsgate, na Inglaterra, fazendo intercâmbio, ir a Bruges era como ir ao shopping - uma ou duas vezes por semana, a cada 15 dias. Pegava um barco e atravessava o canal da Mancha para Oostende e, em Oostende, um trem para Bruges. Em menos de 3 horas, estava lá. Naquele período, ir a Bruges era uma "tendência" entre os alunos da Churchill House... Na quarta-feira à tarde, como não tinha aula, almoçava-se cedo para fazer esse programa. Era muito divertido. Aquele bando de gente no barco, no trem, a dar risada, a fazer piada... Mas, confesso, preferia ir sozinha, prestando atenção no que estava vivendo, como se aquela fosse a última vez. Para mim, chegar a Bruges era como atravessar um portal ou acordar, como por encanto, num lugar mágico, irreal. Para sentir isso, precisava de sossego.


No caminho, sempre que o trem diminuía a velocidade, observava a paisagem, as pessoas que esperavam seus trens nas estações. Nada mais bonito que aqui no Brasil, mas diferente, curioso. Causamos o mesmo efeito nos estrangeiros que chegam aqui, eles acham o Brasil a coisa mais linda do mundo. Nós, é que muitas vezes não nos damos conta do que temos em volta. Também olhava as janelas das casas e prédios, gosto de imaginar a vida que as pessoas têm ali por trás das cortinas - se é muito iluminado ou não, o lustre, os quadros. Outro dia, vi uma pessoa na TV falando que também gosta de olhar as janelas, mas não lembro quem foi. Bom, com toda essa observação, o tempo passava muito rápido e logo eu chegava ao meu destino preferido, naquele pedaço do planeta.

Depois do primeiro momento de encantamento, fechava a boca e saía caminhando para o centro da cidade. Chegando lá, o programa era pegar um barco e sair pelos canais que cortam a cidade. O passeio era perfeito para, mais uma vez, observar - a bela arquitetura medieval, as igrejas e prédios que ficavam às margens do canal, as pessoas que iam e vinham em suas bicicletas, os turistas nas charretes - elementos perfeitos que ajudavam a compor a atmosfera poética e bucólica da cidade. 






Alugar uma bicicleta e sair por aquelas ruas antigas e estreitas era outro programa a se considerar.  E foi assim, pedalando sem destino, que conheci a Rua do Burro Cego, ao lado da prefeitura, e a Rua do Ganso. Não cheguei a ver a sombra do burro e, muito menos, a do ganso. Mas nunca vou esquecer esses nomes. Assim como nunca vou esquecer o dia em que, também de bicicleta, encontrei um belo abridor de garrafa, numa das feiras de antiguidades da cidade, na forma de um Manneken Pis, aquele bonequinho belga, que nós chamamos de Manequinho. O tal Manneken Pis era lindo, pesado, antigo. Um tanto atrevido, com o "Pis" maior que ele mesmo, que servia para tirar a rolha da garrafa. Sem pestanejar, comprei o bichinho. 


o meu é mais delicado que esse
Sempre entrava numa igreja para agradecer. A minha preferida era a do Santo Sangue, super antiga, mais intimista...e guardava uma relíquia inacreditável: o sangue de Jesus num tecido, dentro de uma pequena urna de vidro e ouro. Fiquei fascinada com isso! Também gostava de visitar as galerias de arte e museus. No Kantcentrum and Lace School, a história de um dos principais produtos da cidade: a renda. Além de ver vários exemplos do fino artesanato, ainda era possível ver a renda ser feita, por senhoras simpáticas, risonhas, de bochechas rosadas: 1 centímetro em 4 horas!



igreja do Santo Sangue
A culinária belga é das melhores do mundo. Ouso dizer que se parece com a  francesa, mas em maiores quantidades. A batata frita é uma delícia e tem até museu na cidade. Os belgas se orgulham de fazer o melhor waffle do mundo e o chocolate, que também tem museu, dispensa comentários. A marca Godiva é conhecida nos quatro cantos do planeta. E ainda tem a cerveja! São mais de 1500 tipos e todos são encontrados em Bruges.




museu da batata frita
Não sou de muita cerveja. Dois copos já me satisfazem. Mesmo assim, não tinha como não voltar embriagada, de Bruges.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Noruega: que país é esse?!

A Noruega parece um destino improvável - em função da distância e de não ser, também, um paraíso para compras - como grande parte dos turistas procura. Para mim, o apelo maior é, sem dúvida, a diferença. Sempre viajo para ver as diferenças, o que tem lá que não existe cá. No caso da Noruega, o altíssimo nível de vida, a civilidade ao extremo, a noção de cidadania, o respeito ao próximo e ao meio ambiente. Nem preciso dizer que o que eu vi do país me deixou tonta de tanta beleza. 
Oslo vista de cima
Palácio Real
Karl Johan - a rua principal
um dos muitos parques espalhados pela cidade
Na Noruega, mais de 90% das pessoas têm casa própria, todos têm direito à (boa) escola e emprego.  A saúde está garantida, assim como os estudos. Mordomia zero. Ministros e cia. vão trabalhar com seus próprios carros, de metrô ou de bicicleta, pagam suas próprias contas, trabalham todos os dias, dá para acreditar? Parece um sonho, né? Mas, é real! 


Outras coisas me chamaram a atenção, em Oslo: as ruas arborizadas... o asfalto que dura 10 anos ou mais, a educação dos motoristas de ônibus, que encostam na calçada para as pessoas entrarem...e o número de estrangeiros que mora lá - 25% da população é imigrante. Muitos são sul-americanos, todos com os mesmos direitos dos noruegueses. Para conseguir isso, o candidato a cidadão norueguês tem 2 anos para estudar a língua e a História do país. Depois, é só fazer um teste e ser aprovado. Se já tiver uma profissão, o governo encaminha para o emprego. Se não tem, vai se profissionalizar e, então, trabalhar. A Noruega é um país no qual todos têm futuro! De novo: todos têm futuro. Isso não é maravilhoso?!

o tram corta a cidade, silenciosamente
as bicicletas são para todos
Tudo bem que tem quem ache tudo isso um tédio e termine se matando, como lá acontece. Mas nós, que somos verdadeiros órfãos no nosso país, sem casa, sem estudo, sem emprego, sem saúde, quase não acreditamos..! Aqui, não morremos por opção, mas porque o médico faltou ao plantão, o hospital não tinha leito ou medicação. Acho que precisamos, todos, repensar essa nossa existência, o porquê de termos nascido aqui, o que precisamos aprender com isso... Eu, que adoro meu país, e vejo uma luz no fim do túnel,  torço para que, um dia, o Brasil chegue perto de um país como esse.

Mas, como o assunto não é o nosso país, voltemos à capital norueguesa. Oslo é uma cidade linda, cheia de parques, cercada de florestas, lagos e ilhas, localizada no fiorde de Oslo. Ao longo da baía, ficam os principais pontos turísticos e um terminal onde se pode pegar um ferryboat para o Bygdoy, onde estão os belíssimos museus relacionados à navegação, com barcos vikings, histórias e lendas de um tempo mágico, que muita gente pensa que é pura ficção.
Bigdoy - onde ficam os museus Kon-Tiki, Museu da História Cultural da Noruega, Museu Marítimo Norueguês, Museu do Navio Viking, o Folkmuseum e a residência de verão do rei na Noruega.
barco viking
Uma das mais populares atrações turísticas em Oslo é o Parque Frogner ou Vigeland Park, com suas incríveis esculturas. Trata-se do maior parque de esculturas do mundo. Por ano, ele recebe entre 1 e 2 milhões de visitantes. 

entrada do Vigeland Park
O autor da grandiosa obra é Gustav Vigeland. Durante 14 anos, a convite da prefeitura da capital norueguesa, ele morou no parque. Ali, ele esculpiu os personagens que contam a história da evolução humana, do embrião à velhice. 
À medida que a gente entra no parque, vai se deparando com as esculturas: bebês, crianças, adolescentes, adultos e velhos. Tudo converge para um impressionante monolito de pessoas amontoadas. 
monolito ao fundo
detalhe do monolito
esculturas na entrada do parque
mãe brincando com as crianças

Sinnataggen - menino irritado
Além das esculturas, o parque abriga fontes, pontes e uma área verde que, no verão, é "invadida" por famílias e seus piqueniques. Ao sul do parque, está o Museu da Cidade de Oslo. 
a fonte - início de tudo
Mas o Vigeland Park é, apenas, um dos passeios que se pode fazer na cidade. Há muito o que ver: O Munch Museet, onde estão as obras de Edvard Munch, que ele deixou para a cidade depois que morreu; o Folkemuseum, com incríveis construções seculares, folclore e costumes; o Holmenkollen, onde se pode ver a paixão nacional, o salto em esqui (no inverno) e os festivais de música no verão; o Aker Brygge, para bater perna, comer e comprar; e o mais espetacular dos passeios, que é o trajeto para Bergen - patrimônio da humanidade.

eu e a minha amiga Corina, no museu folclórico
Holmenkollen
Aker Brygge
o caminho para Bergen, entre os fiordes
A viagem dura, mais ou menos, um dia inteiro - de ônibus, trem e barco. Mas as paisagens que se vê fazem a gente desejar mais 48 horas! Pelo caminho, montanhas pontuadas por casa coloridas, que parecem cenários de um quadro e fiordes majestosos - impossíveis de se  "traduzir" em fotos ou vídeos.

pelo caminho, de ônibus
pelo caminho, de barco
paisagens de tirar o fôlego
em Bergen, a temperatura chega a 50 graus negativos
o bairro antigo de Bergen
a arquitetura e o colorido que conquistam a todos que chegam
Mas, Bergen é assunto para outro texto.

sábado, 2 de março de 2013

BERLIM INESQUECÍVEL...

Há 3 anos, fui a Berlim. Escolhemos um hotel na região do Mitte, o Circus, que eu recomendo, próximo à Alexanderplatz, uma praça bem central na cidade, onde fica a torre de TV, de onde se tem uma das mais belas vistas do alto. A Alex, como é chamada pelos íntimos, é frequentada por turistas e os próprios berlinenses, músicos de rua, skatistas, punks e artistas em geral. Nas imediações, uma estação de trem e metrô, uma loja de departamento antiga, a prefeitura vermelha e outros prédios interessantes – novos e antigos -, que contam um pouco da história da cidade. Achei que ficaríamos muito bem, no meio disso tudo.

Alexanderplatz e Dom ao fundo
a torre da TV
a Galeria Kaufhol 
a Prefeitura 
artistas se apresentando na rua

A minha ideia era ficar na parte oriental. Isso porque, há muitos anos, assisti a um filme chamado Berlin Alexanderplatz, de Fassbinder, e nunca mais esqueci. Esse nome, as imagens, os personagens ficaram impregnados em mim e eu não poderia ir até lá sem ficar, pelos menos, por perto.  

Cheguei sozinha. Teria sido mais fácil pegar um táxi para o hotel. Ele teria custado, no máximo, 12 euros. Mas, gosto de me misturar com os locais nas cidades que visito. Peguei um ônibus, parei no meio do caminho para pegar um metrô e desci na porta do hotel. Foi muito fácil. Até porque a minha mala não pesava mais do que 10 quilos - para 15 dias de viagem. Civilizada, eu, né?!
João Miguel estava numa feira em Munique e combinamos de nos encontrar 4 dias depois da minha chegada. Enquanto estava só, perambulava pela cidade. Acordava cedo e saía com um guia e o mapa na mão. Gostava de passear no Tiergarten, um parque enorme, pulmão da cidade. Mas a minha preferência, mesmo, era ver as lembranças da Segunda Guerra - Museu Judaico, Memorial do Holocausto, Bunker de Hitler etc.

o tocante Memorial do Holocausto
a modernidade do Museu Judaico
a impressionante Keiser-Wilhelm-Gedachtniskirch, que foi bombardeada na guerra, mas continuou ali para que os horrores da guerra não sejam esquecidos.
Parava, vez por outra, para experimentar as cervejas e a comida alemã. Acho que nunca bebi tanto na minha vida! Parava, também, quando encontrava as cruzes que marcam os lugares onde pessoas tinham morrido, tentando pular o muro. Primeiro, era o susto, uma dor no peito. Depois, um nó na garganta. Em seguida, esse nó subia e explodia, saía pelos olhos. Muitas imagens passavam pela minha cabeça – e elas só podiam ser fruto dos muitos filmes de guerra a que assisti e dos livros sobre o tema que li. Afinal, a Segunda Guerra foi um dia desses e não daria tempo para uma reencarnação. 

cruzes em praças....
....em ruas...
...às margens do rio Spree. Elas estavam sempre à minha vista
Estávamos em maio e o tempo era perfeito. Sol, céu azul e temperatura por volta dos 13 graus. Para ser melhor, só faltava João Miguel. Mas, ele deveria chegar em alguns dias. Não me restava outra coisa a não ser aproveitar o que eu tinha, naquele momento: a minha companhia e aquela cidade toda para ser explorada. Usei muito o ônibus para percorrer Berlim. O sistema de transporte é ótimo e dá pra gente correr toda a cidade nos ônibus regulares. Andei muito a pé, também, maravilhada com as ruas arborizadas e floridas. Vi muita galeria de arte, fui ao Jardim Botânico e ao Aquário da cidade. Quando João Miguel chegou, fiz tudo isso com ele, outra vez.


ruas arborizadas e floridas - que inveja!
a loja de Romero Brito, na exclusivíssima Avenida Unter den Linden

arquitetura incrível

Impossível ir a Berlim e não voltar mexido. Os restos de muro pela cidade lembram o sofrimento da separação de famílias, amigos e amores. O passado continua lá, embora a cidade tenha uma vida movimentada, seja alegre e cosmopolita, uma das principais capitais do mundo. No Check point Charles e outros pontos de passagem do muro, estudantes reconstituem a história, vestidos com uniformes de militares russos, americanos e ingleses e, em troca de uma gorjeta, posam ao lado de turistas para as fotos. No Museum Haus am Checkpoint Charlie, fotos, vídeos, documentos e objetos relacionados ao muro, como as tentativas de fuga do lado oriental para o ocidental, das formas mais criativas e absurdas, que denotam o desespero dos moradores. 
Check Point Charles 
Potsdamer Platz
Na véspera de João Miguel chegar, eu fui a um bar gourmet sugerido pela minha amiga Dra. Angélica Rollemberg, uma expert em Alemanha. Ele ficava no sexto andar da KaDeWe, a segunda maior loja de departamentos da Europa - só perde para a Harrods, em Londres. Antes do almoço, tomei uma cerveja. Duas. E pronto: a desgraça estava feita. Não preciso de muita coisa para ficar bêbada. Precisei dar um tempo para me recuperar e pedir a comida: massa. E, claro, um vinho tinto. Só Deus sabe como eu saí dali. Mas, valeu a dica, Dra. Angélica. Além de ser um lugar lindo, a comida estava deliciosa!

Quando João Miguel chegou, foi uma festa. Fui buscá-lo no aeroporto, feliz da vida, doida para dividir aquilo tudo com ele! Para comemorar a chegada dele, uma, apenas uma cerveja! Ele já me encontrou mais pra lá do que pra cá.

a cerveja - doce - que tomei de canudinho, no aeroporto, enquanto esperava por ele.
Depois de pegar a mala, fizemos o mesmo percurso que eu, quando cheguei. Comemos alguma coisa no caminho, tomamos um banho no hotel e fomos ver a Filarmônica tocar. Compramos os ingressos ainda em São Paulo, pela internet. Este seria o ponto alto da nossa viagem. Estávamos ansiosos para assistir à Filarmônica, naquele prédio maravilhoso, famoso pela arquitetura de linhas assimétricas, pela acústica perfeita.


Phillarmonie
ansiosos para ver o espetáculo
incrível como a música emociona!
Na bolsa, levei, apenas, o passaporte, a câmera fotográfica e algum dinheiro. Quando voltamos, às 11 da noite, encontramos o nosso quarto mexido, malas abertas e nada do laptop de João Miguel, da minha bolsa e de uma malinha com os acessórios do computador e do celular. Também achei que o ladrão tinha levado o dinheiro que eu tinha enfiado no meio da roupa que estava na minha mala. Na mesma hora, avisamos ao hotel, que logo chamou a polícia. Passamos a madrugada cancelando cartões, conversando com os policiais, João Miguel se consultando com um médico para poder comprar os remédios que o ladrão levou, e em busca de uma farmácia – àquela hora, estavam todas fechadas. Voltamos ao hotel por volta das quatro da manhã. Nossas malas já tinham sido transferidas para outro quarto – maior e mais bonito. E quando a gente acordou, a gerente falou que poderíamos comprar tudo que tinha sido roubado, que seríamos reembolsados. E assim fizemos. Prejuízo material, nenhum. O seguro do hotel cobriu tudo. E ainda tivemos as 9 diárias como cortesia. 
Só nos restava, naquele momento, aproveitar os 4 dias que ainda tínhamos na cidade. Depois, dali, seguiríamos para Koln!

o Portão de Brandenburgo
a cidade vista da torre de TV
o incrível Reichstag, o parlamento alemão.
eu queria uma cidade assim, cheia de árvores
Tiergarten - um dos muitos parques em Berlim.