Estava
certa de encontrar as minhas amigas Dulce e Magali em Roma, num dia de agosto
que já não me lembro mais. Para não nos perdermos, eu fiquei de encontrá-las no
aeroporto. A viagem de Edimburgo para Roma não tinha sido fácil. Saí de
Edimburgo, aos prantos, à meia-noite, e cheguei em Londres por volta das 7 e
meia da manhã. De Londres, peguei um ônibus para Dover. Em Dover, um barco para
atravessar o Canal da Mancha e chegar a Calais, na França. Em Calais, um trem
para Paris. Cheguei às 11 e meia da noite e comecei a vagar pela estação em
busca de informação. Mas, o guichê estava fechado. Eu deveria pegar outro trem
para Roma na Gare de Lyon e eu estava na Gare du Nord, precisando trocar
meus cheques de viagem para comprar o ticket de metrô. Mas, onde? Tudo fechado.
A
cara de boba, claro, atraiu dois sabidos. O primeiro chegou insistindo para
carregar a minha mala. Só tem cavalheiro,
nesse lado do planeta? Em seguida, o outro, brigando para tomar a mala do
primeiro. Mais uma vez, achei tudo muito estranho e, nesse momento, avistei um
casal que estava vindo comigo desde Londres. Fui até eles e rapidamente contei
o que se passava. Pedi para ficar com os dois. Mas, se precisasse, teria
implorado. Eu estava apavorada. O inglês foi um cavalheiro e botou os
“franceses” pra correr e juntos, fomos para a Gare de Lyon. Como os guichês
estavam fechados, lá fomos nós 3, com apenas 1 ticket que a inglesa encontrou
na bolsa, nos arriscando. Se alguém pegasse, iríamos todos parar numa
delegacia.
Chegando
à estação, a mesma coisa: nenhuma informação, câmbio fechado, nada para comer.
Só uma certeza: era dali que o trem para Roma sairia. Meus novos amigos estavam
indo para Nice, também ao sul. Resolvemos, então, sentar num canto e, ali
mesmo, passar a noite, já que ninguém tinha como trocar dinheiro,
impossibilitando a ida para um hotel ou comer alguma coisa. Estávamos muito
bem, já conformados com as acomodações, quando uma funcionária da estação chegou e, "delicadamente", começou a empurrar nossa bagagem com uma vassoura. Na época, o que eu sabia de francês era,
apenas, chez moi, Charles Aznavour e pas de deux. A mulher disparou a falar e a
inglesa a arregalar os olhos. Eu não tinha ideia do que estava acontecendo. Por
fim, ela traduziu pra mim e o namorado: a
estação vai fechar. Devidamente enxotados pela funcionária, a solução foi atravessar a rua e tentar se hospedar num
hotel em frente, bem vagabundo. Chegando lá, expliquei ao recepcionista
a nossa situação e jurei por Deus que, no dia seguinte, pagaríamos o hotel. Ele
aceitou a minha explicação, mas ficou com os nossos passaportes. Subimos 3
lances de escada para chegar aos nossos “quartos”. Tomei um banho e me deitei.
Estava exausta, mas passei boa parte da noite observando a porta do quarto. Ela
não fechava direito e dava para ver quando alguém passava no corredor. As
cortinas deviam ter 500 anos, eram velhas e pesadas. Imaginei a população de
ácaros e como eles deveriam ser felizes ali, naquele paraíso. Num canto do quarto, uma pia
horrenda, e no outro, o banheiro, construído atabalhoadamente. O piso
rangia quando era pisado, parecia um gemido. E o que é pior: eu ouvia o rangido
dos outros quartos. Quem me conhece sabe o quanto isso é capaz de me assustar. Pela
terceira vez na viagem, chorei. E me perguntei o que eu estava fazendo ali. E
assim, dormi, ou melhor, desmaiei.
Essas situações, apesar do sofrimento na ocasião, tem o poder de transformar as viagens em grandes aventuras, o que, de certo modo, valorizam a viagem e trazem muita experiência e aprendizado para as próximas...afinal, se não houvessem esses problemas, não estaríamos lendo este texto...
ResponderExcluirNa hora, é um sufoco, mas depois a gente esquece e vira história!
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